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2/05/24 às 10h57 - Atualizado em 2/05/24 às 10h57

Projeto de Identificação e Monitoramento da População de Capivaras da Orla do Lago Paranoá

Surgimento do Projeto

O projeto surgiu para atender a demanda de moradores e frequentadores da orla do lago, que vivenciavam conflitos com um dos animais silvestres que habitam as áreas urbanas de Brasília, as capivaras, tendo seu início em julho de 2021 e término em outubro de 2022, durante os quais foram realizadas treze campanhas de monitoramento de capivaras, seis campanhas de coleta de carrapatos e mais de trinta ações de Educação Ambiental.

 

Clique para acessar os documentos  referentes ao projeto:

– RELATÓRIO TÉCNICO FINAL – JULHO DE 2021 A OUTUBRO DE 2022

– RESUMO EXECUTIVO DO RELATÓRIO FINAL

 

Metas do Projeto

– Estimativa do tamanho e variação populacional das capivaras ao longo de um ano.

– Avaliar a correlação entre a presença de capivaras e carrapatos na orla do lago.

– Conhecer o que pensam os moradores e frequentadores do lago sobre as capivaras.

– Desenvolver ações de educação ambiental com o intuito de diminuir os conflitos entre humanos e animais silvestres.

 

 

Fonte: projeto capivaras DF

 

Capivaras no lago Paranoá

No lago Paranoá, as capivaras costumam ocupar as áreas onde podem encontrar abrigo e alimentação (Figura 1). A desocupação das áreas de preservação permanente (APP) da orla do lago Paranoá (OLP) permitiu a intensificação do uso dessa área para lazer pela população, bem como com a retirada de cercas aumentou a movimentação da fauna nativa nessas áreas, aumentando a presença de capivaras e seu contato com humanos.

 

As capivaras, quando em áreas ocupadas por seres humanos são favorecidos pelo ambiente com água e alimentação abundante, mas expostos a adversidades como acidentes com veículos (atropelamentos), caça e predação por matilhas de cães asselvajados.

 

Para estimar o tamanho e variação populacional das capivaras na orla do lago Paranoá, foram traçadas quatro rotas de aproximadamente 25 km e as contagens foram realizadas no período da tarde, após as 16 horas, pois com base na literatura da espécie, há maior atividade ao entardecer e ao amanhecer. De tal maneira, foram realizados cerca de 1.300 km de censos de contagem na OLP (100 km/mês ao longo de 13 meses) totalizando 3.226 pontos, divididos em aproximadamente 62 pontos mensais.

 

O número de pontos com a presença de capivaras variou ao longo das campanhas. Em média 78% dos pontos observados da orla não apresentaram capivaras, variando de 86% (março de 2022) a 68% (julho de 2022), mostrando que a ocupação está, na maioria dos meses, restrita a cerca de 25% dos pontos da orla do lago Paranoá. Embora tenham sido avistadas em quase toda a orla do lago Paranoá , os resultados mostraram que as capivaras têm preferência pela parte norte do lago. Além disso, foram observadas capivaras agrupadas ou solitárias, principalmente em bandos com mais de 10 indivíduos apresentando distribuição agregada.

 

Ademais, a estimativa média da densidade de capivaras na OLP foi de 4,2 capivaras/km linear com as estimativas mensais variando ao longo do período (Figura 2) com as menores estimativas ocorrendo em dezembro de 2021 (2,98 capivaras/km) e a maior estimativa ocorrendo em setembro de 2021 (5,47 capivaras/km), sendo que este resultado não significa que haja uma superpopulação.

 

Figura 1. Mapa da distribuição de capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) na orla do lago Paranoá.

É apresentada média de contagem de animais por ponto amostral (300 metros), durante os 12 meses de monitoração (40 dias de amostragem).

A classificação de uso do solo foi retirada do mapeamento feito pelo MapBiomas, para o ano de 2021 (mapbiomas.org).

Fonte: Livreto capivaras DF

 

Figura 2. Gráfico demonstrativo da relação de pontos amostrados e pontos com presença de capivaras entre setembro de 2021 e setembro de 2022.

Fonte: Livreto capivaras DF

 

Correlação das capivaras com ectoparasitas

As capivaras são hospedeiras de vetores de importância médica como os carrapatos do gênero Amblyomma. Os carrapatos são ectoparasitas de vertebrados terrestres do Filo Arthropoda e possuem o ciclo de vida dividido em quatro estágios: ovo, larva, ninfa e adulto. Das espécies de carrapato frequentemente identificadas em capivaras, há registros de Amblyomma dubitatum – Neumann, 1899, e o Amblyomma sculptum – Berlese, 1888.

 

As análises realizadas no estudo mostraram uma relação fraca entre a abundância de carrapatos e o local onde ocorrem as capivaras na orla do lago Paranoá (Figura 1), indicando que os carrapatos podem estar utilizando outros hospedeiros, que lhes permitem ocorrer de forma mais abrangente nesta área (Figura 3).

 

 

Figura 3. Média do número de indivíduos de carrapatos coletados na orla do lago Paranoá.

Os numerais, de 1 a 4, representam os braços do Lago. Fonte: Livreto capivaras DF

 

Observou-se uma interação positiva apenas entre a presença de larvas com a presença das capivaras, sugerindo que esse parasita, nessa fase do desenvolvimento, pode depender mais do hospedeiro, permanecendo presente no corpo desses animais (Figura 4).

 

Como resultado, também foi identificado que ninfas e adultos são influenciados pela sazonalidade, uma vez que estão presentes em maior número entre os meses de setembro e novembro (Figura 5). Já as larvas são bastante susceptíveis à falta de umidade relativa. Os fatores microclimáticos influenciam a ocorrência de carrapatos, mas a vegetação não, provavelmente pelo alto grau de urbanização da orla do lago e uma maior homogeneidade da ocupação do solo.

 

Figura 4. Porcentagem de ocorrência de capivaras avistada (presença, ou sinais de sua presença, como fezes e pegadas) nas áreas de amostragem

 na orla do lago Paranoá, entre os meses de setembro de 2021 e junho de 2022. Fonte: Livreto capivaras DF

 

Figura 5. Número de carrapatos da orla do Lago Paranoá, em suas diferentes fases de vida,

de acordo com os meses de coleta. Fonte: Isadora Gomes. Fonte: Livreto capivaras DF

 

Investigação de presença de bactérias causadoras de febre maculosa em carrapatos presentes na orla do Lago Paranoá 

Foi realizada uma análise molecular em amostras de carrapatos coletados ao longo da orla do lago Paranoá para identificar a presença de bactérias do gênero Rickettsia sp. (Gráfico 1). Bactérias deste grupo podem ser não patogênicas ou patogênicas, que incluem aquelas do chamado “Grupo Febre Maculosa”. No DF, casos de Febre Maculosa Brasileira são raros. Em 2020, espécies de “Rickettsia” foram encontradas em capivaras e carrapatos no DF, porém de espécies não patogênicas.

 

Gráfico 1. Das 252 amostras de carrapatos analisadas, 16% tiveram a presença de bactérias do gênero Rickettsia bellii (espécie não patogênica),

e 0,1% delas apresentaram espécies de Rickettsia sp. do Grupo Febre Maculosa.

Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Percepção dos moradores e frequentadores do lago sobre as capivaras

Para produzir uma campanha eficaz de educação ambiental, forma de sensibilizar e conscientizar a população sobre temas ambientais, o projeto contou com um estudo prévio da percepção humana acerca das capivaras presentes na orla do lago Paranoá, o qual subsidiou as diferentes atividades de informação e conscientização da população, como questionários (Figura 6-8) e visitas de orientação. Todas com um mesmo objetivo: sensibilizar e informar a comunidade sobre o projeto, a ecologia das capivaras e reduzir conflitos entre humanos e animais selvagens.

 

Foram elaborados três modelos de questionários, que foram aplicados para públicos diferentes: moradores da orla, atletas frequentadores do lago e visitantes de áreas de lazer as margens do lago. A aplicação dos questionários, além de trazer informações importantes possibilitou que a interação com a comunidade fosse efetivada. Com essa ação, muitas pessoas contataram o projeto no ano de 2022 para comunicar mortes de animais, avistamentos, presença ou ausência deles e envio de fotos, filmes e interações com a equipe.

 

Figura 6. Resposta dos entrevistados ao questionário, sobre a percepção humana em relação à presença das capivaras no Lago Paranoá.

Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Figura 7. Resposta dos entrevistados ao questionário, sobre a percepção humana acerca da convivência das capivaras e os seres humanos no lago Paranoá.

Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Figura 8. O que frequentadores das áreas de lazer, moradores e atletas disseram sobre o que deve ser feito em relação às capivaras que habitam o Lago Paranoá.

Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Ações de Educação Ambiental

Divulgação científica – Mídias sociais, palestras, oficinas.

– Dentre as ações do projeto, a divulgação da pesquisa e sensibilização da população foi fomentada pela participação dos pesquisadores em palestras, canais de rádio e em rede televisiva (Figura 9).

– Para acesso às redes sociais, acesse os links:

Twiter: Capivaras DF | Twiter

Instagram: Capivaras DF | Instagram

Facebook: Capivaras DF | Facebook

 

Figura 9. Divulgação do projeto de “Identificação e monitoramento da população de capivaras da orla do lago Paranoá”, Brasília-DF. A. Canais de interação em mídias sociais. B. Postagem no Instagram. C. Entrevista concedida pelo Dr. José Roberto Moreira à Rede Globo de Televisão em debate sobre o ataque de capivaras, no dia 09/08/2021. D. Palestra proferida pela Dra. Morgana Bruno, para o Festival de Vela Feminino, em 09/10/2021. E. Roda de conversa com os especialistas do projeto na Semana do Cerrado, promovido pela SEMA-DF em 16/09/2021. F. Reunião presencial da equipe do projeto Capivaras, na Universidade Católica de Brasília, em agosto/2021. Fonte: Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Bioblitz – Ciência cidadã.

 – A Bioblitz é um modelo de evento de coleta de dados sobre a biodiversidade realizada mundialmente. Ela tem o apoio da National Geographic e se baseia na compilação de biodiversidade de um determinado local, por meio da observação e registro na plataforma INaturalist.

 – A Bioblitz do projeto Capivaras mobilizou estudantes da Universidade Católica de Brasília e a comunidade (126 inscritos), para observar a biodiversidade. Simultaneamente, planejaram-se atividades que ocorreram durante 24h, entre os dias 01 e 02 de julho de 2022. Como resultado, nesse curto espaço de tempo, foram identificadas e incluídas na plataforma INaturalist, 117 espécies (Tabela 1).

 – Acesso ao site iNaturalist: Capivaras DF | iNaturalist

 

 

Tabela 1. Dados no INaturalist no Monumento Natural Dom Bosco registrado nos dias 01 e 02 de julho 2022, durante e após a Bioblitz, pelo projeto de “Identificação e monitoramento da população de capivaras da orla do lago Paranoá”. (Disponível em https://www.inaturalist.org/projects/bioblitz-ermida-dom-bosco).

Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Produção de canções e livros infantis.

 – Foram elaboradas algumas dinâmicas e material didático de apoio para as atividades de educação ambiental. Foram eles jogos, uma peça de teatro para a pré-escola e canções (Figuras 11-13)

 

Figura 11. Jogo quebra-cabeça (5-10 anos). Montagem dos quebra-cabeças de animais ectoparasitas e afins. Fonte: Livreto capivaras DF

 

 

Figura 12. Apresentação do teatro de fantoches, com a bióloga Emanuelle Rodrigues e estudante Vitor Lisboa. Fonte: Livreto capivaras DF

 

Figura 13. Visão de um carrapato picando uma capivara, além de também elucidar as fases de vida desse aracnídeo e como se portar em caso de sintomas de febre após uma picada do mesmo. Xote dos carrapatos (Autoria de Vitor Lisboa e Letícia Leite Ferreira). Fonte: Livreto capivaras DF

 

Referências Bibliográficas

Relatório Completo de Identificação e monitoramento da população de capivaras da orla do lago Paranoá.

Resumo Executivo do Projeto

Livreto resumo do projeto

Abundância e infecção natural de Amblyomma sculptum e A. dubitatum por Rickettsia spp em Brasília, Brasil – Artigo

O novo Lar de Orfeu – Livro