Sema na imprensa
Do Correio Braziliense
Por Ari Cunha
Infelizmente, o Relatório síntese sobre a crise hídrica no DF, elaborado pelo Conselho de Recursos Hídricos, da Secretaria do Meio Ambiente, não chegou ao conhecimento da população. Não chegou, principalmente, às escolas da capital, onde a leitura atenta das análises feitas por técnicos do setor sobre a escassez de água ajudaria no entendimento, não só das causas e consequências, mas reforçariam o sentido urgente de se empreenderem medidas e soluções criativas para resolver este que é o maior desafio experimentado pela capital dos brasileiros desde a sua fundação.
O poder multiplicador das escolas tem o dom de promover um alargamento da discussão. É preciso envolver as novas gerações no assunto, realizando feiras de ciência sobre o tema, premiando trabalhos escolares e mesmo universitários, que apontem soluções para esse drama. Ninguém pode desconhecer que o problema é de todos.
É importante salientar que se foram as ações humanas que aceleraram a crise hídrica, há de ser pela ação desses mesmos agentes que as soluções virão ao seu tempo ou pelo menos se tornarão menos intensa e mais suportável. O homem é o agente principal de seu destino. Durante sete meses, o relatório que trata da crise hídrica foi sendo montado com base em análises, informações e propostas colhidas nas diversas reuniões organizadas para debater o assunto e, hoje, se constitui no mais completo e sucinto documento sobre o drama da escassez de abastecimento de água potável para a população do Distrito Federal.
O documento começa por mostrar a queda acentuada nos volumes de chuva, registradoa nos últimos dois anos, sempre muito abaixo das médias históricas para a região. Depois, analisa a distribuição, cada vez mais heterogênea, dessas chuvas, o que tem afetado a preservação de água, principalmente nas sub-bacias hidrográficas do Descoberto e de Santa Maria que, juntas, abastecem 85% da população.
Ao lado desses aspectos climatológicos, decorrentes, em parte, do processo do efeito estufa global, o relatório aponta, no caso de Brasília, o crescimento populacional na última década, superior a 2% ao ano, e os impactos que o inchaço trouxe para a demanda de água e para a produção de esgoto lançado no ambiente.
O documento lista ainda a ação humana decorrente da grilagem de terras públicas e da ocupação irregular do solo (em muitos casos favorecida pelos governos passados, dentro da visão: um lote, um voto). Essas ocupações ocorreram em áreas de proteção de mananciais, unidades de conservação, áreas de recarga de aquíferos, de preservação permanente, de nascentes e de matas ciliares.
Como resultado dessa desordem, o relatório alerta, nos últimos 25 anos, mais de 50% da cobertura vegetal original foram perdidas nas áreas urbanas e no entorno agrícola. Esse importante documento lista a destruição do bioma cerrado, mostrando que, nos últimos 10 anos, as taxas de desmatamento anuais foram superiores a 15 mil km², o que, necessariamente, afetou o ecossistema da região.
Foram considerados problemas as perdas e os furtos de água do sistema superiores a 35%. Estão relacionados, no documento, além da falta sensível de investimentos nas últimas duas décadas para o setor, e o consumo chamado de irracional e perdulário de água, sobretudo, nas regiões mais ricas da cidade, onde o gasto de água por habitante supera os 500 litros/dia, quando a média ideal recomendada pela ONU é de 110 litros por habitante/dia. Há ainda muito a ser discutido com a população com relação à escassez crônica de água, mas o relatório é um bom começo, principalmente, se ações efetivas forem tomadas.
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Foto: Shutterstock/Reprodução.