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Maria da Penha ONLINE Governo do Distrito Federal
20/01/20 às 14h54 - Atualizado em 6/04/22 às 11h51

Implantação de Sistemas Agroflorestais Mecanizados no DF traz sustentabilidade para a área rural

Projeto-piloto é coordenado pela Sema nas Bacias do Paranoá e do Descoberto

 

 

“Minha filha, isso aqui é trabalho. Mas quando você vê as coisas assim, tão bonitas, até esquece”, dizia Ilnéia Alves Rocha Barros, enquanto mostrava os cultivos na propriedade rural que toca com o marido, Claudionor Rocha, no Assentamento Gabriel Monteiro, na Bacia do Descoberto, em Brazlândia.

 

Desde o ano passado, fazem parte também do projeto-piloto Sistemas Agroflorestais (SAF) Mecanizados, implantado nas Bacias do Paranoá e do Descoberto, sob a coordenação da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA). A iniciativa tem como meta contribuir com a segurança hídrica do Distrito Federal.

 

De acordo com o titular da pasta, Sarney filho, os SAFs protegem a terra e os mananciais. “Trata-se de uma estratégia promissora para conversão dos agricultores para uma agricultura mais sustentável, que associe a geração de renda com a recuperação da capacidade de produzir água”, afirmou.

 

 

Os SAF’s conciliam floresta e agricultura, com a manutenção de produção e a recuperação de áreas degradadas, e permitem a recuperação da fertilidade do solo. Idealizado para o uso intensivo da mão de obra familiar, os sistemas agroflorestais são mais saudáveis e permitem que as colheitas se sucedam por todo o ano, sem prejuízo para o solo.

 

Na propriedade de 5ha, Neia e Claudionor investem em banana e em produtos processados, como a farinha e os chips, que vende em feiras orgânicas, como na SQN 216, todo sábado. Pelo SAF o casal recebeu mudas, adubo, sementes e o apoio de mecanização especializada, por meio de implemento adaptado para a atividade. O último plantio foi realizado em dezembro e agora ela acompanha a produção, fazendo o manejo do solo. Tudo com muita atenção e cuidado.

 

A implantação dos SAFs mecanizados no DF é realizada no âmbito do Projeto CITInova Planejamento Integrado e Tecnologias para Cidades Sustentáveis, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), financiado pelo Global Environment Facility(GEF), em parceria da ONU Meio Ambiente, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Programa Cidades Sustentáveis (PCS) e Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES).

 

PIONEIRA

Aos 60 anos, Neia, que é natural de Mato Grosso conta que não poderia estar mais feliz. Lidar com a terra foi uma escolha, já que estava cansada de não ter qualidade de vida. Ela veio com a mãe e irmãos, atraídos pelas oportunidades da época da construção de Brasília. “Minha mamãe queria conquistar alguma coisa para a gente. E conquistou para a sobrevivência. Trabalhou como costureira, passadeira, plantadora de grama. Foi ela quem conseguiu uma bolsa de estudos para um dos filhos, eu”.  Com o benefício, ela estudou até o quarto ano e passou a trabalhar como cabelereira.

 

 

Mas tarde, já casada, começou a prestar mais atenção no trabalho do marido, o marceneiro Claudionor, que também atuava com questões da terra. “Eu não sabia o que era. Mas quando descobri, me apaixonei e decidi mudar de vida e lutar também com a terra”, conta. Eles saíram da Ceilândia para o assentamento buscando uma vida com mais sentido.

 

EMATER

Já instalados na propriedade,  Neia e Claudionor, tiveram o impacto de ver que o trabalho realizado no primeiro plantio não deu resultado. “Não nascia nada”, afirma. Foi então que descobriram que a área era usada antes para o plantio de soja e estava devastada pelo uso intensivo de agrotóxico.

 

 

Apoiados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), o casal realizou análise do solo, que confirmou a pobreza nutricional da área e passou a atuar para recuperá-la. Plantamos feijão-de-porco, guandu. “Agora, não está 100% ainda, mas já chega a uns 80%”, conta.

 

A implantação do SAF por meio do projeto coordenado pela SEMA foi outra feliz descoberta. “É bom demais. Muita coisa eu não sabia. Os antigos tinham outro jeito de manejar a terra. A gente vai evoluindo”. A propriedade dos dois tem hortaliças, limão, laranja, banana, maracujá, café, milho, criação de porco, galinha e peixe.

TRABALHO EM FAMÍLIA

Com 42 anos de casados, o casal se desdobra para dar conta de tudo. Neia explica que é difícil arrumar mão de obra para a lida na terra. Em época de mais trabalho, como no plantio e na colheita, ela recebe ajuda dos filhos e de outros familiares. No mais, os dois se revezam para realizar o manejo da produção. Claudionor também é sempre chamado para construir ou colaborar com construções em adobe, técnica na qual é mestre, e também para participar dos espaços de discussão. “Deixa isso para os mais jovens”, aconselha Neia, preocupada com o tanto de trabalho que eles têm dentro da propriedade.

 

A rotina deles começa cedo. Ela conta que às cinco horas da manhã, o marido já está assistindo ao telejornal e depois prepara o café. “Ele é ótimo marido, pai, companheiro. Se fosse para casar hoje de novo, eu casaria. Não conto a ele para não dar ousadia”, diverte-se a agricultora.

 

 

Vaidosa e bem-humorada, ela se desculpa por não estar arrumada como deveria. Mas mesmo para a lida no campo, sob o sol forte, capricha na indumentária e enfatiza: Sou feliz aqui. Gosto de mexer na terra, de sentir o cheiro, plantar. Também tenho o meu jardim, que cuido sempre que tenho tempo”.

 

Adriana Rocha, filha do casal, voltou há dois anos do Rio de Janeiro e já se uniu aos pais no trabalho como agricultora. Grávida de seis meses, ela e o companheiro, Moisés, planejam abrir uma casa de farinha na propriedade e intensificar o trabalho com agrofloresta. “Com o SAF aprendi que água se planta”, diz Adriana.

 

ETAPAS

Os agricultores contemplados pelo projeto do SAF Mecanizado é formado em grande parte por mulheres, confirmando a tendência registrada pela Emater. Segundo o órgão, elas representam 38% dos produtores cadastrados no DF. Do universo de 46, 2 mil beneficiários, 17.688 são mulheres.

 

 

Os participantes passam por capacitação, aprofundamento de conceitos, técnicas e prática, sempre recebendo assistência técnica.  A escolha das propriedades e o apoio para os trabalhos de campo, com fornecimento de maquinário, mudas e sementes, é realizada por meio de um Acordo de Cooperação Técnica entre a SEMA, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal (Seagri), a Emater e a Administração do Lago Norte.

 

Assessoria de Comunicação

Secretaria do Meio Ambiente